Maior ídolo da história recente do Fluminense, um dos principais na geral, Fred está de volta ao clube.
O fato, no último domingo, se deu a apenas dez dias da data de saída do craque, um triste 10 de junho, quando o divórcio doeu em ambas as partes, há quatro anos.
Este Terno e Gravatinha foi o primeiro veículo da crônica esportiva do país a anunciar o retorno do craque, ainda no alvorecer de 2020.
“O final feliz só não aconteceu ainda porque o contrato do atleta com o Cruzeiro é considerado de altíssima complexidade e o Fluminense quer se resguardar juridicamente para que nada respingue em sua conta. Nas tratativas entre cariocas e mineiros, é consenso entre as partes que a condução da volta de Fred ao Flu não pare também na Justiça, o que atravancaria qualquer possibilidade de transferência imediata do jogador, que tem pressa”, escreveu o T&G, em sua coluna de 8 de janeiro.
Sem acordo, Fred acabaria colocando o Cruzeiro na Justiça, o que foi decisivo para a morosidade do acerto. Sem falar, evidentemente, na pandemia do coronavírus, que, por falta de perspectiva sobre o cenário da bola, tornou tudo ainda mais complexo.
Fred chega ao Fluminense inteiramente ciente da realidade do clube e disposto a cooperar no que for preciso. Sem futebol no país mas já vinculado ao Tricolor, topou receber apenas dois salários mínimos por mês até o início do Campeonato Brasileiro, um pedido do presidente e seu amigo particular, Mário Bittencourt. E mesmo depois disso, aceitou embolsar, fixo, apenas um quarto do que recebia em seu último contrato, no Cruzeiro.
Duas vezes artilheiro do Brasileiro, Fred tem 172 gols em 288 jogos pelo Fluminense. Teria muito mais não fosse por seu problema de relacionamento com Peter Siemsen, presidente na época em que se transferiu para o Atlético-MG. Foi vice da Sul-Americana e ganhou o Campeonato Brasileiro logo em seus dois primeiros anos nas Laranjeiras. Dois anos depois, quebraria o jejum de seis anos sem título Estadual. Após ter sido protagonista no tetracampeonato brasileiro, em 2012, Fred, que só atuou na estreia (foto acima), seria coadjuvante na conquista de seu quarto título pelo clube, este de âmbito regional, a Copa Sul-Minas-Rio, em 2016, meses antes de sua saída.
Na final da também chamada Primeira Liga, o Flu derrotou, em Juiz de Fora (MG), o forte Atlético-PR, que, estruturado, enfileiraria títulos de expressão nos anos seguintes, como a Copa do Brasil, a Copa Sul-Americana e a Levain Cup.
Campeão estadual, regional e nacional pelo clube, Fred acredita que haja tempo de estender a sua coleção de troféus para além das fronteiras nacionais, embora saiba que a realidade atual é bem diversa à que o clube tinha em sua outra passagem.
Até em função da longevidade, houve momentos em que, por equívocos de conduta do atleta, o casamento sofreu abalos, o que por um tempo chegou até a dividir a torcida em jogos no Maracanã – parte o vaiava (minoria), parte o apoiava.
Sobre isso, o jogador outra vez mostrou humildade em sua live de apresentação, ao fazer mea-culpa e citar Marcelo Penha, atual coordenador administrativo, como seu moderador em momentos em que agia de maneira errada.
Momentos, porém, que ficaram para trás. Com quase 37 anos, Fred demostra a maturidade de um veterano e a liderança assertiva de um capitão.
Sua função já não mais será estrita ao campo. Como bandeira tricolor que é, Fred chega para ser a grande referência do clube nos próximos dois anos. Seu simples anúncio mobilizou as redes sociais e fez alavancar o programa de sócio-torcedor do Fluminense.
Apesar de estar bem clínica e atleticamente, sabe-se que não estará o tempo todo em campo, mas sua liderança, dentro ou fora dele, se faz imprescindível neste momento em que o clube batalha para se soerguer.
Apesar do drama financeiro, o Fluminense segue dando exemplo: não demitiu um único funcionário durante a pandemia e vem trabalhando intensamente nos bastidores, como se viu na excelente ação da apresentação do ídolo, horas antes da reprise do jogo do tetra, pela TV Globo. Anunciado hora e meia antes, ao início da transmissão, Fred já falava como jogador do clube para 16 estados brasileiros do território nacional. Um golaço.
Fred chega para somar. Maduro, e portanto agora desprovido de vaidade, ainda fala em retribuição ao episódio de 2014, no período “mais difícil da carreira”, em que se viu sem chão após a Copa, ao ser covardemente responsável pela tragédia. No dia em que voltou às Laranjeiras, no trajeto até o clube, torcedores sinalizavam a cada quilômetro que o ídolo estava mais perto de sua “casa”.
Dom Fredon, maduron, humilde, feliz como está, é um garoto de 18 anos a serviço do clube. Embora não haja promessas, torce-se veladamente pelo canto do cisne. Ao fim do contrato, em 21 de julho de 2022, data de aniversário de 120 anos do Fluminense, terá o desfecho que merece, sendo nomeado embaixador tricolor, tal como foi até morrer Assis, o carrasco.
Já Fred é renascença, vida nova em seu velho clube, por escolha própria, seu amor definitivo.