Do Créu ao Papá

Livres da despesa com o aluguel, Fluminense e Flamengo se enfrentam neste sábado, às 17h, na Arena Pantanal, em Mato Grosso, pela segunda rodada da Taça Rio. Com o clássico levado por empresários para o Centro-Oeste, será a primeira vez que o Tricolor atuará neste que é o menos conservado entre os estádios da Copa de 2014, embora um luxo, se comparado a muitos dos locais do Rio onde são realizados jogos do Campeonato Estadual.

Mas foi em meio a batuques, blocos e desfiles do sábado de Carnaval (10) que um dos mais irreverentes Fla-Flus dos últimos tempos completou uma década. A partida em si nem tinha lá tanta relevância. Envolta com a Libertadores e já classificada para as semifinais da Taça Guanabara, a dupla mandou a campo uma formação quase em sua totalidade de reservas, decisão que nem assim afastou o público.

Provocação após um dos gols

Naquela tarde, mais de 40 mil torcedores estiveram no Maracanã para assistir ao que ficou conhecido como o Fla-Flu do Créu, pela atuação destacada do meia Thiago Neves, autor de três gols e criador de uma das comemorações mais irreverentes do Mário Filho.

Ao fim do clássico, tricolores riam e se esbaldavam com a goleada por 4 a 1 sobre o rival, dançando o Créu também nas arquibancadas, à época, o funk da moda na cidade. Mesmo já passado muito tempo, a marca lançada por Neves nos estádios é até hoje copiada, como visto no tumultuado Ba-Vi de domingo passado, em Salvador.

Abro parêntese, antes que passe batido. Em 2017, o primeiro jogo da decisão do Estadual registrou 34.926 pagantes, número inferior àquela partida da fase de classificação de 2008 disputada entre reservas da dupla Fla-Flu, então já garantida no mata-mata. Neste ano, com suas equipes principais, e ainda brigando pela vaga, apenas 7.126 pagaram para assistir a Fluminense 0 x 0 Botafogo. Números reveladores e conclusivos de que, quando o torcedor se sente motivado, vê atrativos, ele se mantém desejoso de estar acompanhando o dia a dia do clube, fazendo da assiduidade no estádio um hábito, independentemente de quem é escalado. Fecha parêntese.

No elenco atual, de parcos recursos, depois da saída de seus principais jogadores, raras são as atratividades que despertam na torcida a vontade de segui-lo. Uma delas é a irreverência de Junior Sornoza, cujo bom futebol tornou a dar as caras na goleada sobre o Salgueiro, ao fazer três assistências decisivas e voltar a balançar as redes. Ao todo, o equatoriano errou apenas seis dos 54 passes que deu na partida.

Aos 24 anos, Sornoza parece ser aquele sujeito sempre de bem com a vida, de quem se dá vontade de ser amigo. É leve, descontraído e tem, como Thiago Neves, o toque de irreverência necessário para injetar alegria no time, como na comemoração galhofeira (foto) em que permite que Pedro engraxe a sua chuteira.

Seu desempenho reacende as esperanças do reencontro com o bom futebol. Brilhou diante de um adversário de menor expressão, é verdade, mas, contra outros times de nível igual ou até inferior, o meia ainda não havia feito nada parecido nesta temporada.

Que neste sábado, em Cuiabá, o Fla-Flu da vez entre para o almanaque do clássico como o Fla-Flu do Papá, quiçá superando aquela que considerou sua melhor atuação com a mais bela camisa do futebol brasileiro.

Vâmo, Papá!

***

Destaque do jogo ao lado de Gilberto, Marco Júnior comemora

Antes do Clássico das Multidões (a denominação resiste), havia o compromisso contra o Bangu, em Moça Bonita, marcado pela Federação amiga, como na abertura do outro turno, para as 16h30 de um dia útil, embora agora sem o horário de verão.

Diferentemente da estreia na Taça Guanabara, desta vez, o Fluminense teve melhor sorte. Com gols de Marco Júnior (dois), Pedro e Marlon Freitas, o Tricolor goleou por 4 a 0, numa partida em que prevaleceu a boa atuação coletiva da equipe. Todos os gols foram marcados depois da justa expulsão de Michel, no fim do primeiro tempo.

Tema da coluna, Sornoza agradou mais uma vez. O meia participou da jogada do gol de Pedro, deu outras assistências e ainda cobrou uma falta na trave.

Esquenta para o Fla-Flu?

***

Há dois anos, uma experiência dolorosa deu origem a este texto, publicado à época em meu blog e na minha página do Facebook. Eu o escrevi, comovido. Como me sinto até hoje quando o releio.

Na Isla Victoria (ARG), em 2012

Temos loucura de ver renascer quem amamos com ardor, intensidade.

Desde a madrugada de sexta, só o meu coração vem agindo.

Despedir-me de Daiana, espécie de ressignificação do amor, foi das experiências mais dolorosas de minha vida.

Lutava contra a leucemia felina (FeLV), descoberta às vésperas do Natal passado.

Após algumas baixas, sempre seguidas de boa recuperação, o que fazia dela uma leoa, entrou em crise respiratória nas primeiras horas do dia 19.

Levei-a às pressas, mas sua estadia terrena havia terminado.

Amável, linda, paciente, brincalhona, uma gostosura como jamais havia conhecido.

Daiana era uma parceira e tanto. Em casa, éramos unha e carne. Sentíamos igual.

“Quem te fez assim tão bela?”, perguntava-lhe eu todas as manhãs, enquanto nos abraçávamos felizes, com os corações unos, entrelaçados.

Tomada em minhas mãos, tornava-se um boneco daqueles de ventríloquo. Podia fazer o que quisesse, que tudo ela recebia ronronando, de bom grado.

Seu olhar transbordava ternura, bondade… Que parceira ela era, meu Deus!

Entregava-se, plena. Foi a relação homem-animal mais fascinante, extraordinária, sincera que já experienciei.

Melissa, felizmente, a conheceu. Em mais da metade de seu tempo de vida, Daiana conviveu com minha filha.

Na noite de sexta, ao chegar do colégio, acusou sua falta.

Com o coração sangrando, expliquei-lhe, no quarto escuro, que Daiana não havia melhorado e que tinha virado uma estrelinha.

Sua reação foi surpreendente.

De imediato, pulou da cama, chegou à janela e passou a olhar para o céu.

Observou a que brilhava com mais intensidade, esticou o braço e apontou.

“Olha, pai, eu acho que aquela estrela ali é a Daiana.”

Era, de fato, a mais bonita, a mais brilhosa.

Daiana renasceu em seu estado mais puro.

Na inocência de uma criança maravilhosa.

 

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146 thoughts on “Do Créu ao Papá

  1. Pois é.
    Eu preferia mesmo que o jogo fosse contra o time titular do Fla, que nem vejo como esse fenômeno todo, e creio que a turma tricolor teria mais motivos, e, também, por imaginar que a molecada corre mais que certos titulares, e a turma inimiga corre muito.

    Mas veremos o que dará, se a nossa turma manterá a corrida, bem mais vivível ultimamente, e se faz um jogo bom, sempre com astral em cima, seja qual for o resultado.

    Mas espero que não haja ninguém mais que tenha “corrido para o botes”, que muitos fiquem no convés mesmo, e armados até com uma espingarda de chumbinho que seja, mas que não corram, como alguns que já vivem nesses botes há muito tempo no Paranoá e em outras lagoas por aí.
    Nelson Rodrigues jamais ordenaria “todos ao botes”.

    Mas nem sei se verei o jogo, pois meu filho fico de ligar para que eu o pegue no aeroporto, e até agora não ligou dizendo o horário, que chega.
    (24/02 – 15;00)
    wwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww

  2. Saudações!
    Tem gente que vai discordar do meu ponto de vista, todavia, não mudo de opinião. Acho esse vinícius júnior jogador mediano, só diferencia dos demais na velocidade, o que convenhamos, seria um bom atleta para corrida de 100 metros !
    Quanto ao jogo de hoje, parece que o time titular dos “caras” não é lá essas coisas, imagina os reservas, basta aplicação e vontade pelo time do Fluminense e a vitória virá fácil! Veremos!

  3. STT.
    Por que tantas críticas em relação ao Pedro?

    “Decisivo no último Campeonato Brasileiro Sub-20, o centroavante Pedro, do Fluminense, segue vivendo um bom momento. Ele é o artilheiro da base brasileira com 28 gols marcados em 2016, sendo 16 no Carioca Sub-20, sete na Copa São Paulo e cinco no Brasileiro Sub-20, do qual também é goleador máximo.

    O número é muito bom, mas também não pode ser tratado como espetacular. Afinal, nem todos os adversários contra os quais Pedro balançou a rede têm qualidade. Um exemplo é o Capivariano, contra o qual ele fez cinco na goleada por 10 a 0. Além disso, Carioca Sub-20 começou antes dos outros Estaduais, o que dá a ele uma vantagem grande e indica que outros jogadores podem alcançá-lo. Mas os três gols marcados contra o Santos e os dois contra o Grêmio mostram que não é só em jogos fáceis que a estrela dele pode brilhar.”

    Ele vai nos dar muitas alegrias. Espero que o vender ou vender não cresça o olho nele.
    Saudações Tricolores.

  4. Caros,

    Sobre o orgulho, um sentimento imbecil. Quatro títulos brasileiros 1999, 2007, 2010, 2012. Três deles valendo acesso à Libertadores. Um único deles, o de 2012 tendo ainda de aturar o “notável” Flusócio na presidência. Sinta orgulho, quem for “Seu sete”. Mas, de qualquer forma, obrigado UNIMED.

    SDs T

  5. Estatísticas contra o nosso rival do próximo jogo:

    https://uploads.disquscdn.com/images/2e7b94db115e9ee01c204ba85b0c24b699c421fc9199760c63caff71228c95e8.png

    Últimos 10 jogos contra o próximo adversário… somente UMA VITÓRIA! Que lástima! E reparem bem o quadro abaixo, se não ganharmos o próximo, a estatística fica ainda mais vergonhosa: últimos 10 jogos, NENHUMA VITÓRIA!

    https://uploads.disquscdn.com/images/232e66080c82dbd71817dff7c2e24075e66c7e6b1fd6935b61e0068242bfbb50.png

    1. Pode-se dizer que somos… fregueses de carteirinha. Somente empata no brasileirão mesmo.
      E o que é aqueles saldos de gols? Nenhum a nosso favor.
      SSTT

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