Terno e Gravatinha republica coluna em homenagem a Jô Soares

A coluna, como todos os brasileiros, está triste nesta sexta-feira (5) pela morte de Jô Soares, um dos expoentes máximos da cultura e do humor. Para homenageá-lo, reproduz crônica sobre o artista publicada originalmente, neste Terno e Gravatinha, em 3 de fevereiro de 2018, intitulada “Perdão, Jô”.

Que o Flu renda domingo uma homenagem ao Gordo por demais querido de todos nós brasileiros — quase um parente próximo.

Deixará muitas saudades…

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Em recente participação no Bola da Vez, programa do canal a cabo ESPN Brasil, o humorista, escritor e ex-apresentador Jô Soares, que completou 80 anos no último dia 16, comentou passagens de sua publicação recém-lançada, “O livro de Jô – Uma autobiografia não autorizada”, entre as quais, sua relação com o Fluminense.

Durante a entrevista, o jornalista Juca Kfouri, ao falar de futebol, disse achar curioso a obra abordar mais coisas do Corinthians do que propriamente do Tricolor, clube de coração do Gordo, indagação à qual Jô respondeu de maneira breve.

“Sou Fluminense, sempre fui Fluminense. Mas, ao longo do tempo, o Fluminense foi se afastando de mim. Mais do que do Fluminense, gosto de futebol. Não deixo hoje de ver uma partida do Campeonato Inglês para ver um jogo do Fluminense.

Já sabia desse distanciamento de Jô. Era algo público, notório, nunca discorria de assuntos atuais do Flu e nem fazia questão de esconder. Por vezes, até caçoava, jocosamente, do clube, sobretudo na década de 1990, dizendo torcer por “um time que existia há muito tempo no Rio de Janeiro”, o que fazia sua plateia gargalhar.

Como tricolor, sempre achei este comportamento reprovável. “Ora, se não curte, ao menos não vilipendie o Fluminense em rede nacional”, pensava. Mas, com o tempo, e sob uma perspectiva mais abrangente, passei a enxergar naquilo uma forma de reprimenda, de orgulho ferido, de quase súplica à direção tricolor. “Este clube sempre foi notável, exemplar, pioneiro, grandioso. Como puderam apequená-lo desta maneira?”, parecia querer dizer.

Mas Jô não deixava de ostentar felicidade quando o Flu era campeão. No dia seguinte ao gol de barriga de Renato Gaúcho, que deu ao clube o título estadual no ano do centenário do Flamengo (1995), Jô abriu seu programa de costas para as câmeras enquanto dançava os primeiros acordes de seu quinteto (depois, sexteto). Quando decidiu dar fim ao mistério, virou, exibindo-se, tomado por intensa alegria: estava segurando a camisa do Fluminense. Era campeão. O país todo precisava saber.

Era nessas horas que eu mais tinha convicção de minha impressão. “Pô, este gordo ama o Flu, está é muito magoado”, pensava, enquanto ao mesmo tempo vibrava com sua demonstração de ternura à nossa bandeira a milhões de brasileiros. “Mas que beleza!”.

Na mesma semana, fez questão de levar o herói do título ao seu talk show, à época ainda no SBT. Estava jubiloso, radiante. E também provocador. Jô se deliciava naquela entrevista, tal como um garotinho ansioso diante de um ídolo. “Alguém aí viu o Romário?”, perguntava, irônico, fazendo a plateia gargalhar e Renato sorrir de canto de boca, sem esconder o prazer que aquilo lhe causava. O Baixinho, sabe-se, era o grande trunfo rubro-negro na temporada. Chegara, em carro de bombeiro, com status de protagonista do Tetra e melhor do mundo (FIFA). “Continua sendo um bom aluno. O Rei do Rio voltou”, gozou Renato, fazendo Jô quase cair da cadeira. Foi inesquecível.

Ainda naquele mês, tornaria a levar tricolores a seu programa. Convidou dois dirigentes do Fluminense, que lhe deram o uniforme personalizado do clube e prometeram a conquista também do Campeonato Brasileiro, mas que bateu na trave (o time caiu na semifinal, depois de golear o Santos por 4 a 1 no Maracanã e perder por 5 a 2 no Pacaembu).

Nos últimos tempos, com a conquista do tri e do tetracampeonato brasileiro pelo Tricolor, Jô se mostrava de novo a par do momento do Flu, comentando jogadas decisivas de Fred e Deco, atletas que, inclusive, levou ao seu talk show, respectivamente, em 2011 e 2012. “Sou sócio do Fluminense desde criancinha”, disse ao atacante. Em 2014, último ano da parceria com a Unimed, chamou Walter. Foi também a última vez que recebeu um convidado do clube

Sábado à tarde, enquanto um irreconhecível e desfigurado Fluminense jogava em Xerém, num campo acanhado com problemas de iluminação, Mbappé, Cavani e Neymar se exibiam em um estádio lotado construído para a Euro 2016 — Pierre-Mauroy, não pelo Campeonato Inglês, como gosta Jô, mas pelo Francês, na ribalta desde que o brasileiro trocou o Barcelona pelo PSG.

Fico pensando por qual Jô escolheu, caso tenha optado por assistir a um joguinho no conforto de sua casa.

Ah, sim, em Los Larios, sem os olhos de Jô, o Fluminense venceu o Macaé por 1 a 0, gol do menino Dudu, em bonita jogada de Ayrton, Robinho e Pedro, mas ficou de fora das semifinais da Taça Guanabara porque houve um vitorioso no confronto entre Portuguesa e Boavista (este). O 0 a 0 na Ilha, que interessava ao Flu, perdurou até oito minutos do fim, quando um pênalti foi marcado por Marcelo de Lima Henrique. Mas isso aí já é outra história...

Flu precocemente eliminado do primeiro turno de um campeonato nefasto, desqualificado e paupérrimo tecnicamente. E diante de 500 pessoas. Tudo muito constrangedor.

Difícil pra nós, difícil pra ele, a quem agora entendo e dou razão.

Perdão, Jô! Perdão!

11 thoughts on “Terno e Gravatinha republica coluna em homenagem a Jô Soares

  1. A exemplo de Nathan, Michel Araújo também foi contaminado pelo vírus De Amores: ficar de molho, em descanso total e receber um enorme salário.

    1. Enquanto os clubes não tomarem vergonha e colocarem os jogadores machucados por mais de 15 dias para receberem pelo INSS, os “atletas” ficarão nesta mamata de comer, dormir e ganhar bem.

      Ah! se eu fosse o presidente…estariam todos marcando perícia nas agências do INSS.

      ST PA CB

      1. Ora, Limontam. Mais essa?

        Você acha que um grupo de jogadores de futebol aceita ser tratado como aqueles grupos de braçais que você forma para alugar a mão de obra deles para carregar e descarregar sacos em navios nos portos e dá 15% do que cobra para eles dividirem ?
        ppppppppppppppppppppppp.qqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqqq.pppppppppppppppppppp

    2. O q mais tem no Fluminense é gente ganhando uma fábula sem fazer nada …mesmo o super paparicado Ganso ficou mais de 2 anos hibernando, até acordar e honrar o absurdo salário.

  2. Jô faz parte de um tempo que, infelizmente, não existe mais. Época onde era necessário ter talento para estar na TV. Hoje qualquer porcaria vira pseudo celebridade. A quantidade de besteirol, falta de conteúdo e futilidade é assustadora. Vi grandes entrevistas no programa dele, principalmente o Jõ 11 e meia, no SBT. Que descanse em paz.

    Mais tarde estarei no Maracanã, que estará cheio (parcial de 40.000 já confirmada) mais uma vez (ainda bem !). A torcida tem feito a parte dela e comparecido para apoiar a boa campanha.

    Manoel volta, mas André está fora pelo 3 cartão amarelo (idem Caio Paulista). Li que o Diniz deve colocar o Pineida e o Martinelli. Infelizmente, não temos grana sobrando para ter um leque de opções mais qualificado no banco. Temos que nos virar com o que temos. Só nos resta torcer para dar certo.

    A mulambada ganhou do SP e tomou a nossa 3 posição. O Corinthians conseguiu o empate lá em Floripa. Os resultados dos adversários diretos não têm nos ajudado. Logo, não podemos perder pontos jogando em casa. Para cima deles, Fluzão !

  3. Parabéns pelas palavras João. Jô Soares é o q eu chamo de um verdadeiro tricolor…um cara q não se conformava com a mediocridade. Eu entendo dessa maneira, não consigo entender os torcedores ‘tanto faz, tanto fez’, nem os baba ovos insuportáveis de dirigentes.
    Parabéns Jô ão!
    Parabéns Jô Soares!
    Me acabo de rir com a PIADA sobre os gays e o Fluminense.

    1. Pois é, amiguinho, “boquinha de trovão”.

      Eu estava até imaginando que você ia levar uma sumida de bom tamanho também.
      Mas, honestamente, eu passei a saber que o Jô era esse tricolor todo somente depois da sua saída da vida nesses dias agora. Sinceramente, nunca o vi participando das festas do clube nem dos nossos dois recentes títulos brasileiros. E deve ser, também , por que não era esses fã tão grande dele.

      Mas, por certas afirmações contidas no post oficial a respeito dele, já dá pra notar que ele fica muito atrás de outros torcedores, e , nem de longe, pode-se mencionar Nelson Rodrigues, e muito atrás desses outros que pegam o time nos braços quando ele está ferido e sem forças e que vão ver seus jogos em lugares estranhos, sob chuva , sob frio, que certa torcida, ” maior patrimônio do clube”, não vai “nem morta”.

      Eu converso com torcedores que pensam como eu. A gente atravessa ruas para conversar, fica ali jogando conversa fora nas vitórias, chorando nas horas más, mas não dou papo a quem, mesmo de camisa tricolor, sorridente depois de uma vitória, chega pra conversar, se sei que ele é dos que dizem que não deixam de ver jogos do exterior para ver os do Flu. Eu sou implacável nesse aspecto. Não trato o Flu com desdém e não vou ficar ouvindo nego fazer isso perto de mim

      Mas, essa piada, eu nunca a ouvi. Conta aqui, vai.
      (07/08/22)
      ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

  4. Pois é, pois é.

    Eu nunca tive o Jô Soares como meu humorista preferido, não. Ele era de um humor diferente e mais crítico a tudo, a comportamentos diversos de pessoas e muito calcado em políticos em muitos casos. Ele opinava sobre tudo que lhe propusessem, escreveu livros etc. Depois, passou a entrevistas com personalidades diversa onde fazia brincadeiras engraçadas que a situação oferecesse, mas isso lá pelas madrugadas.

    Mas dei boas gargalhadas com a turma do Didi, com aquelas “novelinhas” que eles apresentavam com desfechos muito engraçados. Uma em que, numa véspera de Natal, os três deixaram o Muçum tomando conta do Peru e lhe dando cachaça, esse papo que amolece a carne. Foram comprar ingredientes para a ceia, e, quando voltaram e quiseram pegar o bichinho para matar, o Muçum, que dava um gole para a ave tomava outro maior, já bebão, peitou: “se tocar no meu amigo, eu mato vocês!”.

    Noutra, os quatro eram assaltantes, e iam entrar num local. Dedé, dando esporro no Didi, o mandou ficar e ir procurar onde o segurança estava. Os três já entrado no local, apareceu Didi atrás, e o Dedé, muito zangado, gritou: “achou o segurança !!??” E o Didi: “achei !”. O Dedé: “onde ele está?” O Didi: “está aqui, eu trouxe ele”.

    Não gosto do humor intelectual, não. Eu gosto do humor comum, de uma situação cômica qualquer. Mas, hoje, me associo a todos que estão lamentado a saída de cena do Jô.
    (06/08/22)
    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

    1. É bem por aí, PCA.
      Que o bom Deus coloque a alma dele em bom lugar!
      O Jô criou o bordão “bota ponta Telê” lembra? Kkkk – um monte de gente repetindo a mesma bobagem!
      No final a razão estava com o mestre Telê. Atacantes não tem que ter posição fixa, tem que saber jogar em quaisquer posição! Né?
      Em tempo: tô lendo no Netflu, que o Kayky, aquela nossa joia q alguns cretinamente diz q o Fluminense fez doação, tá sendo emprestado para um time pequeno de Portugal. O MP, outra doação by cretinos, tava no Familicao de Portugal e não aprovou, foi devolvido. Desejamos melhor sorte ao Kayky.

  5. Parabenizar o amigo JG com um texto brilhante sobre o Jô que está num lugar melhor.

    O Fluminense tem que homenagear esse ícone do humor e entretenimento que no fundo era tricolor mesmo que em determinados momentos não trazia alegrias para sua torcida.

    Falando do jogo contra o Cuiabá, o que espero é a vitória puro e simplesmente.

    O que está me causando estranheza é a quantidade de notícias sobre possíveis vendas e não ajuda em nada o time e a prova maior foi quando estourou a “doação” do LH em plena disputa da Libertadores que a consequência todos sabemos.

    Agora, o time começando a pegar o jeito com os campeonatos que está disputando, vem uma venda de algum titular e o Fluminense não tem reservas a altura em muitas posições.

    Depois o Fluminense não ganha nada, o que a gestão vai dar de desculpas?

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