Flauta mágica

O fim de semana foi de luto para este colunista, que perdeu uma tia-avó muito querida, Nabiha, apenas 15 meses depois de seu marido, Dárcio, também nos deixar. O casal era uma espécie de ícone da família.

Tia Nabiha era irmã de meu avô materno, Jamal, que me faltou em 1988, quando eu tinha apenas nove anos. Em face do curto convívio que tive com ele, cresci ouvindo histórias a seu respeito me contadas por seus irmãos, a maioria delas por tio Nabih, com quem mantenho especial relacionamento.

Tia Nabiha jamais se esqueceu de uma visita que lhe fiz em 2003, quando se recuperava de grave cirurgia numa clínica em Botafogo. Chegou a se emocionar no momento em que me viu. Disse não esperar que alguém ainda tão jovem se importasse com “uma velha”.

A comoção da minha tia também me fez chorar, mas só depois, escondido, quando já havia saído do hospital. Uma atitude tão simples de minha parte tivera, para ela, uma representação que eu jamais suporia.

Tal como se eu a tivesse prestado um favor, fez daquilo uma gratidão eterna, o que tomei como enorme lição: o pouco que nos é aparente pode significar muito para outra pessoa.

Tia Nabiha fez questão absoluta de “retribuir” o gesto. De bengala e auxiliada por uma acompanhante, tomou um táxi e foi até a minha casa visitar Melissa, poucas semanas depois de minha filha ter nascido, em 2012. Falou maravilhas da criança, riu, contou histórias da família, da sorte de tê-la e também do privilégio de ter criado Cláudio e Marcelo, dois “filhões”, como ela os considerava (e que, de fato, o são).

Tia Nabiha estava prosa, toda-toda, como poucas vezes eu a havia visto. Foi uma tarde memorável aquela. Lembro também que me falou de valores, conceito de vida, nobreza d’alma. Pude, então, entender o que fez de Cláudio e Marcelo primos que, desde criança, me são tão queridos e distintos.

Tia Nabiha partiu serena, aos 91 anos, enquanto recebia um cafuné, pouco depois de acordar. Não poderia haver maneira mais singela de se despedir.

Foi embora assim, como num passe de mágica.

Ou de mágico, como o era, por vezes, o divertidíssimo tio Dárcio, que soube levar a vida na flauta.

A flauta mágica de tio Dárcio era doce como a sua família e amada como a sua esposa.

Fascínio que a levou ao seu encontro.

Já era hora de a tocarem juntos novamente.

***

Foi o aniversário mais especial da minha vida. Era 19 de janeiro de 2008, data do lançamento de meu primeiro livro, na sede do Fluminense. Completava, então, 29 anos, recebendo amigos e leitores, para uma tarde de autógrafos. Minha família, claro, também esteve lá. Mas em peso, em número inimaginável, numa celebração que marcou para sempre aquela data (na foto principal, com os tios Dárcio e Nabiha).

Francisco Horta, ex-presidente do clube e prefaciador do livro, ficou encantado com o que considerou uma bênção. “Que família, meu Deus! Que família!”, repetia, entusiasmado. Horta conhecia Célio, advogado irmão de Dárcio, de tempos idos em que era juiz. Falaram-se ao telefone, passado a ele por meu tio.

Ao se despedir, carregando exemplares do livro e uma garrafa de uísque com a qual eu o presenteara, Horta, ainda impressionado, disse: “Um graveto pode quebrar, mas um feixe de gravetos, não. E esta sua família, meu querido João, é um feixe de gravetos”.

A coluna de hoje é, portanto, inteiramente dedicada aos amados e inquebrantáveis tios Dárcio e Nabiha.

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78 thoughts on “Flauta mágica

  1. O que chama atenção de uma maneira até incômoda é que o Fluminense deveria pegar o carioca para ir formando o time capaz de encarar as outras competições que serão ainda mais difíceis diante da proximidade de seus inícios como o brasileiro.

    Essa gestão vai enrolando enrolando para se mexer quanto aos reforços e com isso vai só prejudicando o entrosamento e a preparação do time afim de evitar os repetidos vexames que se tornou coisa comum no laranjal.

    Essa gestão não tem que ficar abismada com a baixa presença de público em seus jogos, pois eles mesmos fazem suas lambanças das mais diversas formas que no fim penalizam o Fluminense.

    Somente veremos um dia o Fluminense voltar aos seus melhores dias quando essa turma da Flusócio sair do comando de vez e que não deixará saudades.

  2. João, sei que não vem ao caso, mas no grupo aqui da galera do bairro. Rolou uma pergunta de um framerdista. Dizendo que o Flu foi fundado por rubro negros, sócio na época deles lá no remo. Um tal de Manoel rios e outros. Como é essa história? Que eu saiba Oscar Cox foi o fundador?
    Procede?

    1. Falar sobre a história do futebol no Brasil é falar do Fluminense. Falar da estória do remo é com eles lá. Enquanto nós jogávamos futebol, eles praticavam remo com os outros na Lagoa Rodrigo de Freitas.
      Abraços Tricolores.

  3. Belíssimo Recado sobre a importância da Família nesta hora triste da Sociedade Brasileira. DEUS console seus primos e todos os familiares.

  4. STT.
    Contratem o jogador meio de campo chileno César Valenzuela. De time rebaixado para time disputar Libertadores em 2019. Assistam ao vídeo, melhor que o Conca. Apenas 750 mil dólares, pronto para jogar, sem operação de joelho.
    Saudações Tricolores.

  5. Entendo que esquema bom é o que ganha, no futebol não existe verdades absolutas .Entretanto vou ser direto e reto: com GUM no time não dá!!!!! Esse rapaz deve ser muito bom no trato com as palavras e deve verbalizar muito bem!!!! Porque não entendo como um PEREBA de jogador profissional é TITULAR no meu Fluminense.
    Fora GUM!!!!!!.

  6. E mais um capítulo da velha história de que o Flu mostra interesse por alguém e esse alguém acerta com outro clube… Aguirre é o “alguém” da vez! Pelo que foi vinculado no GE e pelo que o perfil da Flumidia no Instagram publicou… Aguirre já está praticamente no Botafogo!

    1. Fica a dúvida se isto não foi fumaça nos olhos da torcida… dizem que vão contratar certo jogador, mas na verdade já sabem que outros estão no páreo. Depois é só dizer que infelizmente ele preferiu ir para lá…
      SSTT

  7. O juiz que estava escalado para o Fluminense x Vasco era o Grazianni.
    Alegando contusão do cara, a Ferj fez a substituição do juiz.
    Adivinha quem o balofo do Jorge Rabello escalou prá apitar o jogo?
    O desqualificado do MARCELO DE LIMA HENRIQUES!
    ***
    Depois de tudo o que esse FDP já fez contra o Fluminense (inclusive no jogo recente contra o Boavista do Nando), jamais ele poderia voltar a apitar um do Fluminense…tivesse, o Fluminense, sentado na presidência, um cara que socasse a porra da mesa e falasse grosso com esses desqualificados da Ferj.
    ***
    Mas como o Fluminense hj é um time pequeno, presidido por um frouxo, eles fazem o que querem.
    Não adianta ficar reclamando depois não, Abel!

  8. E o beicinho estreou como titular do Palmeiras contra o “poderoso” São Caetano. O Palmeiras foi derrotado e o time vaiado.
    Tô putho! Desta vez faltou o beicinho.

    1. Kkkkkk…o beicinho não jogou nem pro fumo. Foi aquela mesma enceradeirinha que costumávamos ver. Quero mais é que esse malinha se estrepe.

  9. Caros,

    Ainda sobre o Flu-Samorin:

    Na verdade, não sou contra o Flu-Samorin, sempre achei a idéia boa e até revolucionária, mas é o fim-da-picada descobrir agora que na verdade o Fluminense apenas “alugou” um espaço na Europa para servir de vitrine para jogadores jovens, e que, não só não aumentou patrimônio como também ainda investe e paga para não ser dono de absolutamente nada.

    Todos sabem das dificuldades do momento, uma diretoria correta e ética que quisesse atacar os urgentes problemas financeiros do Fluminense deveria, em primeiro lugar, com toda a transparência, demonstrar até didaticamente a situação, e convocar a torcida para um esforço comum. Mas não é isso o que fazem os Flusócios, além de esconderem e abafarem seus erros grosseiros ou mal-intencionados, tratam o torcedor como se fosse um idiota, um inimigo do seu grande projeto de “viabilização econômica” (o apequenamento) do Clube a médio (trinta anos!) prazo.

    Ou seja, a Flusócio não acha necessário, não quer, e nem está também em condições morais de pedir qualquer ajuda ou sacrifício ao torcedor – e não estou falando aqui do pessoal da piscina, do esporte amador ou do conselheiros, todos mancomunados – mas da grande massa da torcida. Torcida que jamais terá uma visão única da situação, mas que poderia muito bem aceitar em sua maioria um período de sacrifícios, se recebesse consideração, sentisse sinceridade e que poderia confiar nestes administradores.

    Infelizmente, parece que caminhamos mesmo para o caos financeiro. E o pior é que parece igualmente provável que Abad e sua turma irão tocar suas liras durante o incêndio final – e então, que “artistas” o Fluminense irá perder! – ao invés de dar o braço a torcer (ao torcedor) e calçar as sandálias da humildade.

    SDs T

  10. É certo que o gramado é péssimo , que estava encharcado, etc.etc.
    Mas estava para os dois times, e o VR levou mais perigo ao Júlio César do que o flu ao goleiro deles.
    Futebol bonito não aconteceria mesmo com campo seco.
    E o Gum hein ? O soprador de apito foi camarada…..
    ST

  11. Bela homenagem João.
    A única certeza e igualdade entre todos os seres vivos se chama morte. Independe de raça, credo, cor, reino (animal ou vegetal), etc… Uns vão antes, outros depois.
    Pelo que vc conta, sua tia-avó foi uma pessoa feliz, viveu bastante e bem. E vc foi um felizardo em ter convivido com a mesma.
    Que fiquem as lembranças felizes e os momentos convividos.
    SSTT

  12. O Fluminense recusou um convite para participar de um Torneio Sub 20 na Alemanhã, onde brigaria pelo tetra campeonato.
    Jogaria contra gigantes da Europa como Arsenal, City, Inter Milão, Feyenoord, Schalke 04…
    Motivo: não tem R$ 50 mil prá custear a viagem.
    R$ 50 mil!
    ***
    Fora Abad!
    Fora Flusócio!

      1. É verdade, Andrei. Acho que não chegou a este valor. Mas para quem está sem dinheiro…

        Não há como se adivinhar o que acontecerá lá na frente. Mas, de qualquer forma, o pessoal fica com o “pé atrás” em relação a determinadas opções de gastos.

        ST

    1. Eu li essa notícia no NETFLU.
      Estava escrito (não sei se corrigiram) que o Flu achou que o custo era alto: R$50.000, aproximadamente R$165.000.
      Esse site é cômico e completamente desorientado.
      Sempre entro lá para rir um pouquinho, e consigo.

      1. kkk Caro Goncere, muito bom! Aqui também tá cheio de cômicos e desorientados, diversão garantidíssima! Adorei a sua sutileza. Até o momento 4 comentários. Oh! duvida cruel… problema de hermenêutica ou maledicência?

    2. Luiz Antonio,

      O pior é que ainda que, em verdade, seja R$ 162.000,00, porque U$ 50.000, vê-se que é inexplicável não se ter esse dinheiro quando o último jogo gerou um prejuízo quase igual. Ou quando se sabe que o Fluminense vem pagando valores altíssimos para quem sequer está jogando no clube. Nem para fazer número nos treinos.

      Acho que este torneio seria importante na política de mostrar os jovens ao mercado, se a política é de venda de jogadores ou, então, e aí sim, para internacionalizar a marca. Ou quando se imagina o valor na negociação do Diego Souza, por exemplo.

      Bem… Acho que seria importante mandar os jovens a este torneio.

      ST

  13. Estimado Joao Garcez, lamento muito por mais esta irreparavel perda, que o Altissimo a acolha em seus braços e que conforte voce e todos os familiares neste momento de tristeza !

    Quanto ao jogo valeu pelos tres pontos, comentar a atuaçao em um campo encharcado e perda de tempo.Temos chances reais de reverter o placar do jogo contra o Avai, a derrota foi injusta, mereciamos ao menos um empate.

  14. Maravilhoso esse texto.

    “o pouco que nos é aparente pode significar muito para outra pessoa.”
    Grande abraco Joao, meus sentimentos.

    1. Realmente, Sylvio! Às vezes (muitas) uma pessoa precisa apenas de um abraço, um aperto de mão ou um simples bom dia! Meus sentimentos, João… perdi minha tia e madrinha há menos de 1 mês e agora, além do meu pai… a minha mãe (irmã e melhor amiga da minha madrinha) também está muito mal. Só Deus mesmo!

    1. Carlos,

      Já tinha lido. São percepções relevantes diante de fatos e dados impressionantes. Só que nada acontece.

      O nosso papel é, se quisermos, torcer. Discernir, talvez.

      ST

    2. Carlos, essa foi uma das maiores lambanças da história do nosso FFC.
      Era mais do que evidente de que foi uma história mal contada e que não renderia nada além de prejuízos aos cofres já combalidos do clube .
      O PS tinha que ser intimado a prestar as contas de todas as mazelas e herança maldita deixada. E o abad junto por ter aprovado tudo.
      Só não enxerga quem não quer .
      ST

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