“Não há na Terra espetáculo mais bonito do que uma partida de futebol bem jogada”, disse uma vez Steven Spielberg, possivelmente depois de ter assistido a um Fla-Flu, o maior clássico do planeta. Estivesse quarta à noite no Rio de Janeiro, o premiado cineasta não se furtaria a novo comentário entusiasta sobre esta fábrica de magia e emoções, que nos faz voltar aos 14 anos quando sentados na arquibancada. Ou sete, idade da minha filha, que esteve comigo no Maracanã.
Partiu dela, inclusive, uma observação que venho tentando entender há tempos: “Pai, por que a torcida do Flamengo não canta? Parece que é o Fluminense que está vencendo por 3 a 0?”.
Pois o fenômeno se repetiu: de um lado, uma arquibancada pulsante, vibrante, apaixonada por seu time, carregando seu escudo pesado no colo. Do outro, uma torcida fria, blasé, que só se manifestava em lances de gol.
Melissa conheceu a diferença entre uma torcida apaixonada e outra apenas numerosa. Não é de hoje, a torcida do Fluminense sempre goleia nas arquibancadas, com vibração, criatividade, o coração arrancado do peito. E o pó de arroz sacudiu mesmo o concreto, com uma tempestade em três cores.
O Flamengo ficou aturdido. Sentiu o golpe, até se ver nas cordas lá pelo meio do segundo tempo, quando a torcida tricolor cantava ainda mais alto e Evanilson marcava o segundo gol. A partir daí, foi um frenesi só. O Fla, pela primeira vez sob comando de Jesus, abriu mão de atacar, praticando o antijogo, para fazer o tempo passar.
Gols anulados, VAR, uma sucessão de eventos deixaram o Flamengo sob intensa pressão, diante de uma massa vermelha que assistia a tudo inerte. O fim do jogo despertou reações distintas: a do Flu, com o orgulho nas alturas, bravando sua supremacia, descendo, com adrenalina a mil, as rampas do estádio. A disparidade técnica entre os elencos nunca se confirma em Fla-Flus. Há história, traumas, os meiões tricolores, vários são os gatilhos. Um cadeirante, homem de meia-idade, de cavanhaque, com a camisa tricolor, estampava seu sorriso orgulhoso. Submetera-se ao tempo ruim, às adversidades, por amor ao Fluminense. Uma cena linda, de chorar.
Foram muitas as vitórias do Fluminense no clássico. O Tricolor não é dado a comemorar derrotas, claro que não. O Fluminense é resistência, o time de todos, tem a diversidade a seu favor. Diante dele, o Flamengo se curva, parece admirar, tem uma visão privilegiada, de frente, de onde assistiu, mais uma vez, ao escudo que joga sozinho.
No campo, no grito, na arquiba, na tradição, o Tricolor confirma a regra, fazendo sempre valer um dos versos do hino adversário: “No Fla-Flu, é um ai, Jesus”.
***
Curtinhas:
- A torcida do Flamengo entoou gritos homofóbicos ao fim do jogo. Saberemos agora se a Justiça é mesmo justa.
- Jesus perdeu toda a minha simpatia. Ficou mordido ao ver seu time acuado, ao que recebeu, aparentemente, como uma audácia, como se quisessem arranhar seu prestígio. Tentou equilibrar as forças sendo arrogante em sua coletiva. Não soube ganhar.
- “No Fla-Flu, eles sempre tremem”, ouvi isso, ainda garotinho, de meu pai. São 12 finais, ganharam só quatro. Há certas obviedades que a razão da bola nem ousa tentar explicar. Mas agora, também garotinha, foi a vez de Melissa atestar a verdade absoluta dos Fla-Flus: “Tremem mesmo”.
***
A coluna de hoje não contém observações técnicas. Permiti-me escrevê-la apenas sob a ótica de um tricolor que viveu uma noite de arrepiar até os fios de cabelo. Nota dez para a torcida. Impecável!
***
O Terno e Gravatinha também está no Instagram. São postagens diárias, com fotos do passado, presente e muitas recordações. Siga-nos lá: @TernoeGravatinha
***
E-mails para esta coluna: joaogarcez@yahoo.com.br
Fanpage do Terno e Gravatinha no FB: https://www.facebook.com/BlogTernoeGravatinha/
Caros tricolores
O time é lutador, a torcida é o que temos de melhor, mas o treinador é sofrível. Pena que o clube não tenha o Diretor de Futebol profissional, se tivesse era para responsabilizar inteiramente esse cidadão que faz o papel de “treineiro”. Fora Odair!
Saudações tricolores
Fred vem aí, tomara, para quem nao tinha nada, agora evanilson e fred. Falta a galera do Rio or nos jogos em maior número e a galera do Brasil se associar em massa, o flu só se porta como grande quando a torcida se mostra de clube gigante. Hoje vamos vencer 2 a zero, mas se o acaso nos pegar distraído partimos para outra.