Vovó vai ver o Vovô

Minha avó Christina tem 92 anos. Isso quer dizer que quando ela nasceu, em 1924, o Fluminense era um jovenzinho de apenas 22 anos. Conta já ter frequentado o clube mais moça, e tem recordação de ter vivido emoções em bailes dançantes no Salão Nobre.

Não chega a ser uma torcedora fervorosa. Mas gosta de futebol. E tem especial atenção com o Fluminense, time do seu neto predileto – este colunista. Por isso, sempre que o Flu está na TV, minha avó Christina corre para acompanhar o jogo.

Fred é o seu favorito. Para ela, o capitão tricolor “joga mais até do que Pelé”. Não sou ninguém para contestar minha avó. A opinião dela é soberana. Mas, ultimamente, para a minha avó, “Fred não anda mais fazendo tantos gols quanto antigamente”. Talvez hoje minha avó já não ache mais Fred melhor do que Pelé. Não quis perguntar. Para mim, é motivo de orgulho saber que um jogador do meu time é mais bola  do que o Atleta do Século. Ainda que segundo a minha avó.

Neste domingo, quando mais uma edição do Clássico Vovô será disputada, vovó estará em sua cadeira de balanço pontualmente às 16h para ver o Fluminense jogar. E, se Deus quiser (e minha avó também), com vitória em verde, branco e grená. O Tricolor, sabe-se, jogou três vezes com o Botafogo este ano e não ganhou nenhuma. Minha avó talvez não tenha recordação disso. Mera formalidade. Para a minha avó, o Fluminense é o melhor do Brasil e Fred, o melhor do mundo. Quer dizer, acho que não é mais, já foi.

Há um motivo ainda mais importante do que os três pontos para que eu deseje a vitória do Flu no clássico.

Minha avó, o sorriso da minha avó.

Que, mesmo com quase um século nas costas, ainda faz compras todas as semanas no mercado e me liga à noite para, com todo amor e ternura, dizer: “João querido, vem buscar suas frutas”.

Vovó Christina é uma bênção na vida de qualquer um.

Sou muito grato por tê-la ainda a esta altura comigo.

Vovó merece a vitória no Vovô.

E com gol do Pelé, quer dizer, do Fred.

O “melhor do mundo”.

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AP

Parecia claro que, com duas equipes tão niveladas, quem fizesse o primeiro gol sairia com a vitória. Não se trata de nenhuma clarividência, mas apenas de uma projeção, de uma probabilidade, dado o equilíbrio da partida.

E como acabou provado. O Fluminense teve duas bolas com Fred, ambas desperdiçadas, e as lamentou. Porque nas duas que o Palmeiras teve, no começo do segundo tempo, colocou-as para dentro. Foi o elemento determinante do jogo, que não apresentou domínio de qualquer dos times. A diferença esteve mesmo na competência de quem balançou as redes – Vitor Hugo e Alecsandro, que entrou no intervalo.

Ao lançar mão de uma escalação mais conservadora, com Pierre e Edson na cabeça de área, Levir Culpi já sinalizava que a sua proposta em São Paulo era pontuar. Acrescem à limitação técnica da dupla de volantes, o chá de sumiço que Cícero costuma tomar durante alguns jogos e a noite sem brilho de Gustavo Scarpa.

Assim, sem lenço, documento, mas, principalmente, sem gol – e com pouco futebol –, o Fluminense sofreu a sua primeira derrota no Campeonato Brasileiro. Levir terá de sacudir esse time até domingo para voltar a vencer, contra o Botafogo. Não sei o que fará. Mas gostaria que Richarlison fosse titular, o único entre os substitutos que deu um pouco de ânimo à equipe.

Terá tempo reduzido até lá, mas o bastante para chegar a conclusões sobre o que não vem funcionando.

E que a vovó Christina não nos ouça.

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O resultado desta maravilha é o que você pode conferir neste CATcerto abaixo.

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