Dourado de honradez

É muito triste e incômodo para qualquer tricolor ouvir da boca de um profissional que deseja sair do Fluminense porque o clube não é cumpridor de seus deveres.

Falo especificamente de Henrique Dourado, que, após a estreia na Florida Cup, manifestou abertamente sua vontade, ao dizer que não gostaria de reviver no Flu os problemas por que passou em 2017.

Dourado chegou ao clube em julho de 2016 e estava na lista de negociáveis ao fim daquele ano. Como o Fluminense não conseguiu contratar Barcos, escolhido para ser a referência do ataque, Abel deu moral ao Ceifador, então encostado, entregando-lhe o colete de titular.

O jogador correspondeu, mostrou poder de decisão ao marcar nas finais da Taça Guanabara e do Campeonato Estadual (ambas contra o Flamengo), terminou como artilheiro do Campeonato Brasileiro e, de quebra, do futebol nacional na temporada.

Valorizou-se. Com todo o mérito, agarrou com unhas e dentes a oportunidade que recebeu e soube aproveitá-la, revelando-se, ao longo do ano, um profissional comprometido, dedicado e eficiente. Ganhou a simpatia dos torcedores e, principalmente, da garotada.

Mostrou-se carinhoso, sincero e preocupado com Daniel, que padecia de uma enfermidade rara, indo pessoalmente ao hospital para realizar o sonho do menino de jogar video game com ele. Não o fez pela publicidade, para parecer bonzinho. Fez de coração. Tanto que, mesmo longe dos holofotes, continuou procurando saber do garoto, que, infelizmente, acabaria morrendo três meses depois.

Ao saber da notícia, mencionou-o de novo nas redes sociais, falou sobre valores, aprendizados, agradeceu a Dani pela oportunidade, pelas lições.

Dourado adquiriu status no clube, tornando-se uma das lideranças. Seria o capitão em 2018, como o foi no empate em 1 a 1 com o PSV. Em qualquer outro grande clube do Brasil, não chegaria com o mesmo patamar.

Mesmo pesando tudo isso na balança, prevaleceu a vontade de sair. É de seu direito. Nenhum profissional deve trabalhar onde já não é feliz.

Não é também o caso agora de o torcedor misturar alhos com bugalhos e sair recriminando o atleta, que sempre se mostrou muito digno na defesa das cores do Fluminense. Coisa que, por sinal, continua fazendo até o último de seus dias, embarcando para os Estados Unidos, treinando, jogando, não se omitindo. Seria cômodo seguir o caminho da Justiça, como fizeram outros atletas, ou gerar um desgaste para provocar a sua saída.

Mas, em vez disso, Henrique Dourado está tendo hombridade, está sendo verdadeiro. No Brasil, país do jeitinho, optou pelo caminho da transparência, da honestidade. Tem, por isso, o meu respeito e admiração. Sempre torcerei por pessoas assim, retas, idôneas de caráter.

Que seja feliz para onde quer que vá.

E que a diretoria do Fluminense se manque de vez para evitar outros vexames do gênero.

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Para um clube mergulhado na crise, o 1 a 1 com o time alternativo, mas organizado, do PSV, na Flórida, até que foi bom pela atitude dos atletas e pelos dois golaços marcados na partida.

O esquema com três zagueiros, adotado neste primeiro momento por Abel, não fez feio, mas a pobreza criativa do time saltou aos olhos, com Sornoza solando na criação e Henrique Dourado sem oportunidades no ataque.

Como teste inicial, valeu. Até porque as expectativas não eram as melhores.

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