Por um arqueiro mais versátil

Escrevo este tema antes de Fluminense x Corinthians. Contudo, as linhas abaixo independem de uma só performance, tendo em vista que são fruto de observação de meses, anos até.

Diego Cavalieri já não merece a titularidade do gol do Fluminense. Seu jeito frio, num primeiro momento, pode transparecer segurança, firmeza. Não é o que ocorre na prática. Entre outras coisas, o goleiro tricolor rifa a bola nos tiros de meta e mata diversos contra-ataques ao retardar sua reposição.

Seu jeito “desligado” reflete diretamente em suas atuações, já que raramente – quase nunca mesmo – intercepta bolas cruzadas em sua área, o que é fatal. Diego Cavalieri tem a prerrogativa de colocar as mãos na bola, o que faz de seu alcance superior ao de qualquer jogador de linha. Se não o faz, é por inabilidade, incapacidade ou receio. Eu, particularmente, fico com esta última.

É cômoda, muito cômoda, a situação de um goleiro que finca seus pés sobre a linha do gol, tal qual a raiz de uma palmeira centenária. Ora, ao optar pela confortável posição de não abandonar a sua meta, Diego se exime de culpa nos arremates disparados longe de seu alcance, quando, na realidade, sua responsabilidade é direta no lance, já que a finalização ou o cabeceio sequer seriam efetuados se Diego fizesse corretamente o seu trabalho.

Fazer carreira, perpetuar-se no gol do Fluminense, foi o que tentou também Fernando Henrique. Suas deficiências gritavam (não convém falar delas agora). Prova é que quando deixou as Laranjeiras nunca mais conseguiu emplacar em outro clube de ponta.

Não é este o caso de Cavalieri. Tem grife, nome, bons momentos no Palmeiras e no próprio Fluminense. E, como Fernando Henrique, também chegou à Seleção Brasileira (esteve no elenco campeão da Copa das Confederações de 2013), embora FH, convocado por Parreira, tivesse atuado apenas em um jogo beneficente contra o Haiti, em 2004.

DCAssim, aos olhos de quem não é especialista, Diego Cavalieri transparece ser um goleiro seguro, que raramente falha. Mas quem conhece bem a posição logo vê que o goleiro é vazado porque não sai do gol, é regularmente surpreendido porque erra no tempo de bola e deita-se ante o atacante, dando-lhe de bandeja todo o gol. E assim vai se perpetuando no gol tricolor, sem ser incomodado – inclusive pelos treinadores, o que é curioso.

Está no clube desde 2011, após um começo claudicante, em que ganhou a vaga de Ricardo Berna e logo em seguida, durante a Libertadores, tornou a ser barrado (dizia-se na época que lhe faltava ritmo de jogo porque não vinha sendo aproveitado no Cesena-ITA).

Firmou-se em 2012, quando fez seguramente a melhor temporada de sua carreira, garantindo várias vitórias pelo placar mínimo do Fluminense, que acabaria campeão do Campeonato Estadual e do Brasileirão daquele ano. Com a pecha de herói, e com certo respaldo da mídia, deitou nos louros da conquista e nunca mais foi o mesmo, acomodando-se no cargo e apoiando-se na fama de “goleirão”.

Já Júlio César é o avesso. Está no clube há quase dois anos e atuou pouco neste período. Contudo, nas sete vezes em que defendeu o gol do Fluminense, saiu-se bem. Foi decisivo nas oitavas de final da Copa do Brasil do ano passado nos dois confrontos contra o Paysandu. Tem técnica, arrojo, elasticidade, coloca-se bem e, diferentemente de Cava, sabe sair do gol com segurança.

Júlio já chamava a atenção por suas atuações quando defendia o Botafogo, em 2006 e 2007. Injustamente, ficou marcado de modo negativo por um lance decisivo, ao deixar passar por entre seus braços um chute de longe do Cleiton Xavier, do Figueirense, na semifinal da Copa do Brasil de 2007. A jogada acabou por eliminar o Botafogo da competição e classificar o time catarinense para a decisão, contra o Fluminense, que levaria a taça. Júlio se transferiu para a Europa e ficou no Velho Continente até chegar às Laranjeiras em 2014. É um goleiro pronto, maduro, para assumir a titularidade do gol tricolor.

Se Levir é conhecido por não se prender a nomes, mostra-se equivocado, ao menos na opinião deste colunista, sobre quem se encontra mais preparado para defender uma posição-chave de qualquer equipe.

Contudo, há tempo.

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Brasília

O Fluminense se juntou ao Bloco dos 13 ao atingir a mesma pontuação do Santos, quarto colocado, com a vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians, atual campeão brasileiro, pela primeira vez sem Tite, agora técnico da desgastada Seleção Brasileira.

Cícero desencantou, curiosamente numa das partidas em que o time menos produziu. O Flu chega a cinco jogos de invencibilidade, o que é ótimo para um time que ainda escorrega em suas atuações, buscando regularidade e padrão.

Levir Culpi, apesar de algumas atuações apagadas, faz bem em insistir com ao menos oito titulares, o que favorece o entrosamento do grupo.

Contra o Corinthians, quando em vantagem, o Flu, mesmo com um a mais, não conseguiu engatar um contra-ataque que matasse o confronto. Apesar de terem participado diretamente do lance decisivo, Cícero e Gustavo Scarpa, de quem mais se espera algo diferente, de novo não jogaram bem.

O Flu tem deficiências em seu elenco, e jogadores como Maranhão não animam. Com o elenco enxuto, a hora é de ir ao mercado e de segurar os valores que ainda restam no clube.

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Numa manhã fria, horas de chuva, indo para o trabalho, vejo uma cena dolorida e ao mesmo tempo linda: o maltrapilho do asfalto acarinhava seu cão, que, de pé, reclinava sua cabeça contra as pernas do homem. Seus olhos cerrados transbordavam dor e ternura. A miséria os uniu. O amor também.

Pensei em que condições haveriam de ter passado aquela noite gelada. E lembrei-me de minha pequena filha, Melissa (3), que havia dormido confortavelmente em sua cama, aninhada com suas inúmeras bonecas e bichinhos de pelúcia.

Já bem cedinho, quando saía com a mãe para o colégio, após me beijar, da porta do quarto, receitou a mim, ainda sonolento pelas horas mal-dormidas: “Papai, se você quiser falar comigo, é só colocar a mão no coração, tá?”.

Ao cruzar com o homem e o cão, tocado pela emoção do gesto terno, imediatamente tirei uma das mãos do volante, levando-a ao peito esquerdo. E disse, sussurrante: “Tenha um lindo dia, minha filha. Eu a amo profundamente”.

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saojose

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A memória acima foi fisgada depois que tomei pé de que um morador de rua da cidade de São José do Rio Preto (SP), também em ato bastante comovente e, sobretudo, altruísta, sob a gélida temperatura de 7,2ºC, doou seu único cobertor ao seu amigo inseparável, Skafi, um cão idoso com quem vive há dez anos.

Questionado por uma equipe de reportagem sobre o porquê da doação, o mendigo, de nome Luis Carlos, disse que decidiu deixar a coberta com o seu companheiro porque ele estava com frio, tremendo e precisava cuidar do seu amigo.

A conclusão é sua, leitor!

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