De almanaque

Impávido, colossal, o Fla-Flu de almanaque da Sul-Americana mexeu com as estribeiras do torcedor e reacendeu centelhas adormecidas de multidões descontentes com o futebol jogado no Brasil. Era de uma partida assim que tricolores e rubro-negros precisavam, tal qual o 3 a 3 que abriu a série de clássicos entre eles, ainda em março, que culminou com o título da Taça Guanabara nas Laranjeiras.

No 3 a 3 internacional, Flamengo e Fluminense relembraram tempos em que a rivalidade era alimentada dentro de campo, através da ação de jogadores briosos, retos, comprometidos com a sua bandeira, suas cores de esperança. Tudo assistido por uma plateia entusiasta e eufórica, como a do apoteótico Fla-Flu deste 1º de novembro.

Numa época de vacas magérrimas, em que assistir a 90 minutos de futebol deixou de ser um prazer, mas quase um dever clubístico, agradeço aos jogadores da dupla Fla-Flu por me terem feito sentir calafrios, emoção, euforia, raiva e, no fim, apesar de triste com a desclassificação, uma enorme alegria por me ter percebido novamente fazendo parte daquilo, vibrando, apaixonado, incontido. O sensacional Fla-Flu da Sul-Americana mexeu definitivamente com as coisas do porão.

Aos tricolores, espetaculares pela entrega, ficou uma boa lição: se jogassem sempre com essa fome também no Campeonato Brasileiro estariam não no pelotão intermediário da tabela, mas brigando pelo pentacampeonato.

E se a Libertadores via Sul-Americana agora já não é mais possível, com a possibilidade cada vez maior de Grêmio e Flamengo, finalista e semi das competições internacionais que disputam, serem campeões, não é tão improvável que o G6 do Nacional chegue a virar G9, hoje ocupado pelo Atlético-PR, que tem apenas três pontos a mais que o Flu. Três, repito. Então, por que não?

Como o próprio Flu pareceu querer mostrar a si próprio na noite mágica, basta querer.

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