Adeus a Fred

Logo que chegou à coletiva que marcou o fim de sua extensa história no Fluminense, Fred não escondeu a consternação. Com a testa franzida, olhar compungido, procurava enterrar a cara entre as barras inimagináveis da dor. Talvez não visse nada, talvez não visse ninguém. Quando um casamento assim acaba, as chagas são inevitáveis. O mundo parece saltar e voltar. E embarcam todos – atleta, clube e torcida – na reverberação da relação, que parecia ser para sempre.

Ainda assim, Fred será eternamente uma bandeira tricolor, independentemente do que vier a fazer até o fim de sua carreira. Sua trajetória a partir da sua chegada às Laranjeiras lembra um pouco a de Ézio (a quem homenageou quando morreu, em 2011 – foto acima), que ficou por muitos anos no Fluminense e também se transferiu para o Atlético-MG logo após conquistar o título mais importante de sua vida – o inesquecível Campeonato Estadual de 1995. Como havia construído um roteiro de sucesso nas Laranjeiras (é o décimo maior artilheiro de todos os tempos), jamais deixou de ser conhecido como o Ézio do Flu. Tal como se repetirá agora com o ex-capitão.

Fred também cometeu erros. E não foram poucos. Como sua trajetória no Flu se confunde um pouco com a trajetória deste Terno e Gravatinha, há nove anos no ar, durante este tempo, o blog acompanhou e opinou sobre os deslizes do capitão. Fred é humano, por vezes, mimado. Bateu de frente com outras lideranças. Não queria ser ofuscado. Seu temperamento às vezes difícil ocasionou saias-justas para o time e para ele próprio – a mais grave delas na decisão da Copa Sul-Americana de 2009, quando uma cabeçada no juiz resultou em sua expulsão, freando a reação pela busca do título, que, graças ao destempero do atacante, ficou no quase.

Sua contribuição para o Fluminense também foi de valor formidável. Dois títulos brasileiros e o posto de terceiro maior artilheiro do clube dão a medida de seu legado, que antes mesmo de construído já levantava a torcida e inspirava este colunista.

lendaFred ficou feliz – muito feliz – quando escrevi um texto em sua homenagem em 2010, depois que propôs um contrato vitalício à diretoria. Chegou a reproduzir a postagem, intitulada “A lenda”, em seu site oficial. Coincidentemente, tomei conhecimento quando estava próximo de sua terra, em Minas Gerais, e compreendi que minhas palavras o tinham tocado, contribuindo, direta ou indiretamente, para seu sucesso nos anos subsequentes.

Tentar entender agora o que aconteceu para que Fred saísse é direito de todos, mas não mudará em nada o fato, consumado na noite de sexta 10. Embora, ultimamente, de forma mais contundente, andasse fazendo restrições à sua conduta e também pensasse que seu custo-benefício já não compensava, jamais deixarei de reconhecer a importância de Fred para o Fluminense. E vice-versa.

Ao fim da coletiva, encaminhou-se para a saída. Deixou o Salão Nobre pela última vez. Encerrava-se uma era.

vibra

Quando uma bandeira deste tamanho parte, nosso mundo não fica menor, nem pior.

Mas, ídolo que foi, certamente diferente.

Adeus, Fred!

***

Era uma vez… o Grêmio. Uma vez, não; três.

Nos últimos 11 meses, o clube gaúcho tem sido uma espécie de coadjuvante de luxo na história do Fluminense.

Três “eras”, três vezes o Grêmio pela frente.

E ele tem até trazido sorte ao Fluminense. Na estreia de Ronaldinho, em 1º de agosto, deu Flu, no Maracanã: 1 a 0. Nas quartas de final da Copa do Brasil, em 1º de outubro, primeira partida após a passagem meteórica do Dentuço, o empate com gols eliminou o time de Roger Machado: 1 a 1, na Arena Sul. Por fim, neste 11 de junho, ao fim da longeva Era Fred, de novo o Grêmio como primeiro oponente: como aquele, 1 a 1, em Volta Redonda.

MJRNão sei se o Grêmio atentou para esta coincidência. Mas, com certeza, o que não lhe escapou foi a presença ostensiva do carequinha Marco Júnior em sua área. Grande algoz dos gaúchos, o atacante marcou em todos os jogos, exceto no empate do ano passado. Mas até naquele foi decisivo, já que foi dele o cruzamento na cabeça de Fred, que finalizou com estilo.

No confronto do Raulino de Oliveira, contudo, a expectativa de todos no Flu “era” de vitória. O time lamenta não ter aproveitado a chance de ter jogado a maior parte do tempo com um a mais, depois que o volante Ramiro foi expulso por reclamação, ainda na etapa inicial.

Mas o campeão da Primeira Liga não enfrentou qualquer equipe. Do outro lado, um dos líderes da competição até o início da rodada: o forte e bem-armado time do Grêmio, que, como o Flu, só perdeu uma partida na competição – e para o mesmo adversário, o Palmeiras.

É o típico clássico nacional, em que qualquer resultado pode ser considerado normal. Como também o será o bicho que der contra o Corinthians, quinta, em Brasília. Apenas com a diferença de que o Flu estará um pouco mais pressionado.

Não entendi a opção de Levir por Maranhão. Pareceu-me um tanto quanto temerário lançar o menino recém-contratado logo de saída contra o Grêmio. Sentiu a pressão do desafio e de ter sido logo o primeiro substituto de Fred. Não correspondeu. E ainda falhou na marcação no gol de Marcelo Hermes. Levir, então, tirou-o para a entrada de Marco Júnior, que deveria ser, como Magno Alves, o herdeiro natural da vaga.

2Embora sem brilho, o Flu jogou bem, martelou, criou e, de novo, pecou na finalização. Cícero e Edson perderam oportunidades incríveis de dentro da pequena área. Tivessem os laterais em jornadas um pouco mais inspiradas e evitassem o excesso de bolas levantadas na área – jogada “viciada” do Flu nas últimas temporadas para que Fred resolvesse sozinho –, o time teria mais chance de sucesso.

O Fluminense não perde há quatro jogos e não ganha há três. Mas é bem possível, nos jornais e sites por aí, que a mídia amiga só faça questão de mencionar esta última.

Uma vitória contra o atual campeão Corinthians, porém, ratificará a sequência invicta – contra adversários difíceis, registre-se – e servirá de impulso para que o motor tricolor, cujo veículo anda misturando muita água à sua gasolina, engrene de vez.

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